Maria José Von

“A formação da maioria dos nossos jovens pesquisadores é uma coisa que me preocupa. Eles não dispõem de tempo para curtir a fase gostosa de formular os porquês e as hipóteses (...)” Maria Deane

Maria José Von Paumgartten Deane nasceu a 24 de julho de 1916, em Belém do Pará, onde realizou seus primeiros estudos. De origem humilde, a paraense Maria von Paumgartten Deane enfrentou muitas dificuldades durante a infância. Ela contava que dividia com as duas irmãs um único par de sandálias. Possivelmente esta experiência tenha lhe dado o senso de solidariedade e justiça tão marcantes em sua personalidade. Mais que uma cientista pioneira, Maria Deane foi uma mulher à frente de seu tempo: na década de 1930, formou-se em medicina, tornou-se cientista e desbravou o interior do país para investigar doenças até hoje negligenciadas. Uma trajetória condizente à sua produção científica extremamente original, que até hoje levanta discussões. Decidida, dona de personalidade forte, Maria Deane não tolerava injustiças. Em sua vida pessoal e durante toda a carreira científica, sempre optou pela defesa de valores como humildade, solidariedade e honestidade. 

Ela fez descobertas incríveis! A paraense Maria von Paumgartten Deane foi uma lendária protozoologista que registrou diversas descobertas significativas sobre leishmaniose visceral, malária e doença de Chagas. Foi ela quem descreveu, pela primeira vez, o duplo ciclo de multiplicação do Trypanosoma cruzi (agente causador da doença de Chagas) em gambás. Sua produção científica é extremamente original. Além de uma cientista pioneira, ainda na década de 1930, formou-se médica e viajou por todo o interior do Brasil para investigar doenças que continuam a ser negligenciadas. 

Em 1936, ingressou na Faculdade de Medicina e Cirurgia do Pará. Realizou trabalhos na comissão encarregada de estudos sobre leishmaniose visceral do Serviço de Estudos de Grandes Endemias do Instituto Oswaldo Cruz. Depois se transferiu para a campanha contra o malária, realizada no Ceará. Em 1942, assumiu o cargo no Departamento de Parasitologia, do Serviço Especial de Saúde Pública em Belém, onde colaborou em pesquisas sobre malária e filariose, realizando estudos na Amazônia e no Espírito Santo, entre outros estados. Desenvolveu também pesquisas sobre verminose e leptospirose. Foi ainda chefe do laboratório de entomologia da Campanha de Erradicação da Malária, do Ministério da Saúde, cargo que exerceu até 1961, quando ingressou no Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo (USP). Em 1969, organizou o Departamento de Microbiologia e Parasitologia da Faculdade de Medicina de Taubaté (SP), transferindo-se em 1971 para Minas Gerais, onde desempenhou tarefa semelhante no Departamento de Zoologia da Universidade desse estado. Ao lado do marido, o cientista Leônidas de Melo Deane, percorreu o Brasil estudando as doenças endêmicas causadas por parasitas. Ajudou a fundar o Instituto de Patologia Experimental do Norte, o Instituto Evandro Chagas, o Serviço de Malária do Nordeste e o Serviço Especial de Saúde Pública. Em 1953, o casal passou a trabalhar na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Perseguida pela ditadura militar, exilou-se em Portugal em 1973. Em 1976, a convite do governo venezuelano, organizou o Departamento de Parasitologia da Faculdade de Ciências da Saúde, da Universidade de Carabobo. Retornou ao Brasil em 1980, transferindo-se para a FIOCRUZ como pesquisadora titular do Departamento de protozoologia. Em 1986, assumiu o cargo de vice-diretora da FIOCRUZ. Em 1988, foi responsável pela reestruturação do curso de pós-graduação da FIOCRUZ. Enérgica e de personalidade forte, Deane dedicou boa parte de sua vida para estimular a formação de profissionais de saúde. Também esteve envolvida na consolidação de unidades de ensino e pesquisa em várias instituições, como o Departamento de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP) e o Departamento de Parasitologia da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Carabobo (Venezuela). Na Fiocruz, o Instituto Leônidas & Maria Deane (Fiocruz Amazônia) é também uma homenagem às suas incontáveis contribuições. Maria José Deane morreu em 13 de agosto de 1995 aos 79 anos.

 

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