Niède Guidon

Guardiã do maior tesouro arqueológico brasileiro

Arqueóloga conhecida mundialmente por seu trabalho em arqueologia pré-histórica de civilizações sul-americanas e seus esforços para garantir a conservação do Parque Nacional Serra da Capivara, Patrimônio da Humanidade. Seus achados arqueológicos levam a crer que o povoamento do continente americano tenha-se dado muito antes do que se supunha. A então hipótese mais aceita, acerca do povoamento das Américas, indicava que os primeiros humanos chegaram no continente há 15.000 anos. Entretanto, alguns dos sítios arqueológicos estudados por Niède contêm artefatos que datam de até 108.000 anos antes do presente. Seu trabalho resultou na descobertas de mais de 1.300 sítios arqueológicos e de centenas de fósseis, na região da caatinga brasileira.

"Não dava para ver o fundo daquele buraco, aberto na pedra, no alto sertão nordestino. Por certo que há dezenas de milhares de anos ninguém entrava ali, se é que algum dia alguém tinha entrado. Ela se pendurou numa corda e desceu, desceu, desceu 120 metros. A primeira coisa que encontrou lá embaixo, na caverna, foi o esqueleto de um tigre de dentes de sabre de, no mínimo, onze mil anos de idade. Subindo de volta, um enxame de abelhas que perturbava na descida a atacou, foram milhares de ferroadas. Não havia soro, ficou entre a vida e a morte; se resistisse a noite inteira, teria chances de sobreviver. Os companheiros de expedição não conseguiram dormir, até que às cinco da manhã ela abre os olhos e diz, animadinha: "Vamos voltar lá agora!". É desta fibra que é feita a mulher cientista e homenageada dessa exposição.

Por esse destemor a chamam de onça e até já se batizou uma aranha venenosa com o nome dela. Além de abelhas, enfrentou outros bichos, de coronéis do sertão a militantes sem-terra, para, nos anos setenta, erguer e preservar um patrimônio do Brasil e da humanidade: o Parque Nacional da Serra da Capivara, no interior do Piauí. É um museu a céu aberto, monumental, com pinturas rupestres que reescreveram o que se sabia da vida humana de dezenas de milhares de anos atrás. “A maior galeria de arte das Américas” segundo publicação da Revista Americana da Universidade do Texas.

Suas vitórias foram inúmeras: entre elas, o Museu do Homem Americano que divulga a importância do patrimônio cultural deixado pelos povos pré-históricos na região, e o Museu da Natureza, que conduz o visitante através da história do nosso planeta, desde o surgimento da matéria aos dias de hoje. Levou para lá rodovias, universidade e até um aeroporto, sem falar dos milhares de turistas.

Hoje muitos arqueólogos que trabalham na região foram formados em projetos educacionais promovidos por ela em parceria com projetos implementados nas escolas básicas e depois puderam formar-se nos cursos superiores de Arqueologia e de Ciências da Natureza trazidos para a cidade de São Raimundo Nonato. Pensando em desenvolver o turismo foram trazidos ceramistas para capacitar a população local na produção de cerâmicas artesanais, assim como foram financiados cursos para criação de abelhas e produção de mel, oferecendo assim alternativas sustentáveis de renda para a população local para que não mais precisassem explorar o parque.

Quando não se falava em empoderamento das mulheres, a Niéde não falava mas praticava isso. Causou espanto geral por ser uma mulher usando calças e dirigindo quando nenhuma mulher fazia isso. Fez questão de que todas as guariteiras do Parque fossem mulheres. É o único Parque Nacional do Brasil em que somente mulheres recepcionam os turistas. A essas mulheres foi garantido sustento e proteção, inclusive contra violência doméstica. Diziam na cidade: “Não mexam com as mulheres da Dra. Niéde!” E lá todos sabiam que era valente como uma onça!

Difícil resumir, mas ela já se definiu com uma frase: "Eu passo o presente procurando o passado”. Agora, aos 90 anos, ela é nossa homenageada, a arqueóloga Niède Guidon!".

Texto: Pedro Bial

Adaptado: Viviana Borges Corte

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