Nise da Silveira

Bióloga e pioneira ativista feminista no Brasil

“Nesta casa eu me sentia livre para introduzir métodos inusuais, o tratamento fundamental fazia-se através de habilidades expressivas, não havia médicos vestindo jalecos, não havia enfermeiros, mas sim monitores que estavam ao lado para ajudar em uma ou outra dificuldade. As portas e janelas estavam sempre abertas”, referia-se Nise à Casa das das Palmeiras, clínica pioneira em regime de externato criado em 1956. 

Nise da Silveira, nasceu em Alagoas no dia 15 de fevereiro de 1905, teve formação católica na infância e estudou em um colégio de freiras, em Maceió. Seu pai era professor de matemática e jornalista e sua mãe pianista. Em 1926, Nise concluiu o curso de medicina, sendo uma das primeiras mulheres a se formar médica no Brasil e a única mulher de sua turma, formada por 57 homens. Foi nessa época que aproximou-se do colega de curso Mário Magalhães da Silveira e com ele se casou. O casal de médicos não teve filhos, preferindo se dedicar ao trabalho, e quanto trabalho e dificuldades Nise enfrentou.  Ao ingressar no Centro Psiquiátrico Nacional Pedro II, no Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro, ficou horrorizada com os tratamentos violentos, comuns nesse contexto e passou a travar uma luta  em busca de trazer para esses pacientes, que estavam entre a loucura e a exclusão social, um pouco de dignidade. Aluna do psiquiatra suíço Carl G. Jung, Nise valorizava o tratamento humanizado e inseriu a pintura e modelagem em argila como técnicas de atendimento. Isso possibilitou que as pessoas se expressassem por meio da arte, transmitindo em cores, formas e símbolos suas angústias mais profundas, no que mais tarde foi chamado de arteterapia. Nise era contra o confinamento e isolamento dos internos. Foi inserida a convivência com animais - que a médica chamava de co-terapeutas - o que contribui para baixar os níveis de estresse e ansiedade, diminuindo crises dos pacientes.

Com o desenvolvimento do processo artístico com os internos, Nise reúne os trabalhos dos pacientes e percebe que era necessário criar um espaço para sua conservação e preservação. Assim, funda em 1952 o Museu de Imagens do Inconsciente, que abriga um importante acervo desses documentos.

Como consequência de seus ideais, na década de 30 a médica envolve-se com o PCB (Partido Comunista Brasileiro), o que lhe rende muitos problemas com o governo de Getúlio Vargas. Em 1936, uma enfermeira do hospital em que Nise trabalhava fez uma denúncia, o motivo era porque em cima da mesa de Nise, além de livros de psiquiatria, haviam os de comunismo e marxismo. Nise foi presa no mesmo dia e permaneceu encarcerada por um ano e meio “ Porque passei pela prisão eu compreendo as pessoas e os animais, que estão doentes, pobres e que sofrem, eu me identifico com eles, Sinto-me um deles”. Na prisão conhece o escritor Graciliano Ramos, que mais tarde a citará na obra autobiográfica Memórias do Cárcere.

Depois de libertada, precisou se retirar do trabalho em hospitais públicos entre 1936 e 1944 devido à perseguição política, vivendo por 8 meses na clandestinidade. Foi depois desse período que Nise iniciou o trabalho no Hospital do Engenho de Dentro. Não se cura além da conta, gente curada demais é gente chata. Todo mundo tem um pouco de loucura (...) Vivam a imaginação pois ela é a nossa realidade mais profunda. Felizmente nunca convivi com pessoas muito ajuizadas”.

Dentre as inúmeras curiosidades sobre Nise está que diariamente ela saia à noite para alimentar gatos e com eles permanecia meditando. Inclusive escreveu um livro a respeito chamado “Gatos, a emoção de lidar”. Além das artes, Nise da Silveira também introduziu cães e gatos na vida de seus pacientes, para que se apegassem a eles, criando um elo com o mundo real. “Observei que os resultados terapêuticos das relações afetivas entre o animal e o doente eram excelentes". Mas era difícil que essa idéia tivesse campo para desenvolver-se. No Brasil a aproximação entre doente e animal, infelizmente, ainda não era cultivada. Ela dizia que os gatos são excelentes companheiros de estudos, amam o silêncio e cultivam a concentração. Cultivo muito a independência. Por isso gosto do gato. Muita gente não gosta pela liberdade que ele precisa para viver. O gato é altivo, e o ser humano não gosta de quem é altivo.”

Em 1999 no Rio de Janeiro, Nise, permaneceu internada por um mês devido a complicações de uma pneumonia e aos 94 anos morreu por insuficiência respiratória. Mas sua memória continua viva e seu legado para concretizar direitos aos portadores de transtornos mentais fortalece a luta antimanicomial.

Saiba mais em: 

https://www.youtube.com/watch?v=oA7GzbWK6XEe

https://www.youtube.com/watch?v=1BoIgA695Pgbe

https://www.socialistamorena.com.br/nise-o-gato-e-eu/rena

https://www.ebiografia.com/nise_da_silveira/

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