Vivian Miranda
Astrofísica Trans: “No Brasil não me respeitam, nos EUA faço satélite”
Aos seis anos, Vivian foi morar em Ipanema, bairro da zona sul do Rio de Janeiro, junto a sua mãe, que visitou diversas escolas privadas da região para implorar por uma bolsa parcial, já que as condições financeiras não eram adequadas e ela acreditava que sua filha precisava crescer em um ambiente diverso e tolerante.
A extenuante carga de trabalho de sua mãe a forçou a ser independente. Essa independência forçada afetou tanto sua trajetória acadêmica quanto sua identidade de gênero. Não expressar sua transexualidade sempre foi uma fonte de frustração, não via a possibilidade de ser cientista e travesti ao mesmo tempo, e os dois sonhos eram igualmente importantes.
“Às vezes, pagava programas para me consultar com as travestis de Copacabana com o dinheiro que arrecadava dando aulas particulares. Nem elas acreditavam que era possível ser cientista travesti” conta Vivian.
O grupo de pesquisa em cosmologia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) lhe proporcionou liberdade plena.
Sua vida mudou em 2010 com a ida para a Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, onde fez seu doutorado em Cosmologia. A universidade era radicalmente diferente, por isso não teve condições de iniciar sua transição de gênero, além da exaustão intelectual a que foi submetida. A transição começou a ocorrer de forma gradativa, em 2016: um dia um batom, outro dia um par de brincos. Até a mudança do nome.
Ganhadora de dois importantes prêmios – Nathan Sugarman Award e Schramm Fellowship, posteriormente foi contratada para fazer seu primeiro pós-doutorado na Universidade da Pensilvânia. Instalada na Filadélfia, conheceu três mulheres maravilhosas, cujo suporte foi crítico para assumir a identidade de gênero: Patricia Guerovich, Elizabeth Coffey Williams e Kendall Stephens, da ONG William Way LGBT Center, que patrocinava um encontro semanal com a comunidade transexual. O departamento de física forneceu muito apoio e suporte, a universidade pagou inclusive a maior parte das despesas hospitalares relativas ao tratamento de transição de gênero.
A mudança para a Universidade do Arizona, para iniciar meu segundo pós-doutorado, foi uma grande vitória. Em 2019, ganhou mais um prêmio, o Leona Woods Lectureship Award, que celebra as contribuições de mulheres e outros grupos minorizados na Física, fez projetos em parceria com a Nasa, e ministrou palestras sobre a sua pesquisa em energia escura em diversas universidades americanas e europeias.
Saiba mais:
https://cienciahoje.org.br/artigo/uma-vida-dois-sonhos/
https://oglobo.globo.com/celina/ate-ipanema-se-tornou-um-lugar-hostil-di...
https://www.escavador.com/sobre/5011948/vinicius-miranda-braganca